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João e Maria: Caçadores de Níqueis

Acho louvável a tentativa de adaptação dos grandes clássicos das histórias infantis para filmes de ação misturados com suspense e terror, no melhor estilo violência pré-adolescente que Hollywood tem feito ultimamente. Em alguns casos, o resultado é interessante como no caso de “Os Irmãos Grimm” (2005) de Terry Gilliam, mais pela atuação de Matt Damon e Heath Ledger que qualquer outra coisa. No entanto, em outros casos a tentativa se frustra em questões que se resolveriam na mesa de criação do roteiro. Incluo nesse último caso, “A Garota da Capa Vermelha” (2011) de Catherine Hardwicke e o filme objeto de nossa resenha de hoje: João e Maria: Caçadores de Bruxas (2013) de Tommy Wirkola.

Poderia me interessar pela adaptação de contos clássicos ouvidos na infância, porque nela podemos ver como essas pequenas histórias tem um teor de energia e valor narrativo, que consegue se adaptar a todos os tempos, épocas e lugares e se tornam interessantes tanto em obras mais herméticas até as mais simples representações. Entretanto, como foi dito, em João e Maria parece que tudo fica no ar, marcado, mas indefinido, são traçados apenas esboços de narrativas que logo são abandonadas para que tudo caiba na fórmula pré-definida para o tipo de filme requerido.

“João e Maria: Caçadores de Bruxas” conta a vida adulta de João e Maria, aqueles que, quando crianças, se perdem dos pais e encontrando uma casa de doces viram prisioneiros de uma bruxa que tenta engordá-los para, posteriormente, se alimentar deles. No filme, os dois queimam a bruxa e, quando adultos, se tornam caçadores de bruxos que são chamados para uma cidade onde crianças estão sumindo.

Aí que começa a confusão: O fetichismo sexual e violento americano coloca logo uma ruiva sexy no rumo de João, forçando um par romântico que não tem qualquer empatia, enquanto Maria, com traços finos e corpo violão, seduz nos gestos e nas batalhas no melhor estilo Lara Croft. Para piorar, na Idade Média, João e Maria possuem muitas metralhadoras que provavelmente produzem muito mais tiros que em qualquer batalha da Segunda Guerra Mundial e, as bruxas, sem armas, possuem poderes e compõe batalhas numa mistura de Matrix, Crepúsculo e Harry Potter.

Toda a ação da trama não permite que nenhum personagem se afirme e nenhuma narrativa se acumule. Assim, qualquer tipo de empatia ou emoção fica em segundo plano e só o que conseguimos ver e ouvir são câmeras que sacodem pra lá e pra cá, no escuro das batalhas, e gritos de “puf”, “pow”, “ai”, “ouch”, tudo sem qualquer profundidade. Além disso, a cereja do bolo é a aparição de “bruxas brancas”, seres do bem que até metade do filme, nem se cogitaria a existência.

O filme parece juntar todas as obras citadas acima e se aproveitar de um nicho que se abriu recentemente com “Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros” (2012). O que eles perdem de vista é que tem muita graça em fazer um presidente caçar vampiros: seria como imaginar Lula, no Brasil, caçando Sacis-Pererês. No caso de João e Maria, o máximo que conseguem é fazer uma versão bem piorada e sem graça do genial Sítio do Picapau Amarelo de Monteiro Lobato.

Enfim, “João e Maria: Caçadores de Bruxas” é uma experiência mal sucedida de cinema que deixa uma impressão de que tudo foi feito gratuitamente para arrecadação substancial na bilheteria e para obter um sucesso com um público bem pouco seletivo. O que corrobora essa posição é a incapacidade do diretor e de roteiristas, apesar de tudo que acontece, em fazer um filme de uma hora e meia. Com oitenta minutos tudo já se resolve e a história segue, como se ainda coubesse fazer outro filme em sequência. De verdade, não dá.

“João e Maria” está em cartaz no Top Cine Hipershopping ABC com sessões às 15h e 19h até a próxima quinta-feira (21). A classificação é 14 anos.

Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo e poeta, formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO – Univesidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde atualmente cursa Letras – Português/Literaturas.

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