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O Grande Gatsby (2013) – De quando éramos grandes

Os grandes homens, as grandes ideias, os grandes amores, as grandes utopias, esperanças, formas de se ver perante o mundo, e se perceber assim, entre tudo e todos, grandes. Foi isso que se perdeu das nossas mentes e de nossos pensamentos, no decorrer do início do século XX. Perdemos a capacidade de nos imaginar lá do outro lado, abraçando as utopias e as transformações, configurando aquilo que seria nossa realização enquanto seres humanos na Terra. E ao lado disso, claro, o amor. Houve um homem, um personagem pelo menos, que representou esse último cara, o último que viveu, amou e foi grande. Gatsby é o nome dele.

O Grande Gatsby (2013), de Baz Luhrmann, baseado no romance homônimo de F. Scott Fitzgerald, um dos maiores romances de todos os tempos, é sobre Nick Carraway, um rapaz simples que trabalha na Wall Street e vai morar em um bairro emergente de Nova Iorque. Ao chegar lá, ele fica sabendo da existência de um homem rico, poderoso e misterioso chamado Gatsby (Leonardo diCaprio), vizinho seu, que mora em um castelo e dá constantes festas toda semana. Aos poucos, Nick vem a conhecer o estranho Gatsby, e descobre que tudo que ele faz é por um estranho e obsessivo caso amoroso.

O grande desafio de Luhrmann parece ser de que forma se deve encarar a grandiosidade da obra de Fitzgerald, pois se por um lado ela tem grandes tons festivos e épicos, por outro, tem uma densa tragédia que vai desvelando aos poucos, e se intensificando de acordo a história se desenvolve. Parece-me que o diretor opta por dar tons espetaculares a toda obra, tentando alternar intensidades com belos e gigantescos efeitos estéticos, brilhantes, uma anacrônica trilha sonora e um tom sombrio, crepuscular, da carga dramática e dos diálogos ásperos.

Se algo fascina no filme é justamente essa capacidade estética de Luhrmann que mantém o padrão de suas obras anteriores, principalmente do musical Moulin Rouge – Amor em Vermelho (2011), de dar fluidez ao contar sua história, ao mesmo tempo em que usa elementos díspares e anacrônicos. Esse processo fluido, de idas e voltas e narrações, buscam mais do que ser realista, captar uma atmosfera que o diretor imagina para cada situação sem apego ao que é histórico ou verossímil.  E de atmosfera em atmosfera, o que se vê é um filme monumental, que comete, sim, falhas aqui e ali porque excede na breguice e em figurinos de cenas que lembram imensas escolas de samba.  O que Luhrmann faz é filmar o seu Gatsby que pode decepcionar muitos, mas jamais decepcionará a visão dele de mundo.

O excelente Dicaprio e, o “bom por ser ruim”, Maguire formam uma interessante dupla nas telonas, fazendo com que o Gatsby seja também um humano atordoado e atrapalhado, assim como Nick, um homem completo, muito além de um homem pacato e medíocre, como seria óbvio numa primeira leitura. O protagonismo no filme não se exerce, e a atração se dá em iguais níveis por tudo que acontece na tela.

Por conta disso, O Grande Gatsby faz muito jus à obra de Fitzgerald e ao cinema comercial atual, com velhas questões expostas ainda de maneira sedutora e sem reflexões além do padrão que o próprio livro/filme traz. Vale a pena ver, vale a pena ter em casa. Vale a pena lembrar como era ser grande em um mundo onde os grandes acabavam.

O filme está em cartaz no Cinemaxx Mercado Estação, com sessão às 20h50.

https://www.youtube.com/watch?v=Cc0anZC1t5M

luiz

Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo e poeta, formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO – Univesidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde atualmente cursa Letras – Português/Literaturas.

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