A burrice humana, a falta de uso do cérebro, a pequenez do pensamento, muitas vezes é relativizada pelos intelectuais, que tem como função atribuir “inteligências diferentes” e pela sociedade, talvez para esconder sua própria burrice. Sinceramente, não consigo chegar a um resultado dessa questão: embora ache que julgar uma pessoa de burra é algo prepotente e até precipitado, em alguns casos, é a melhor maneira de definir um assunto. Michael Bay em Sem Dor, Sem Ganho faz um filme esquisito que reflete sobre isso.
Sem Dor, Sem Ganho (2013) é sobre Lugo (Mark Wahlberg), um apaixonado por músculos e academia que resolve tentar se inserir no chamado “sonho americano”. Cansado de ter uma vida média, reúne dois amigos (Anthony Macki, Dwayne Johnson) para sequestrar um de seus clientes e fazer com que ele passe todos seus bens para o trio. Entretanto, pela completa incapacidade intelectual dos três, uma série de estupidez são cometidas e, o que era um simples ato se transforma em um caminho sangrento.
O filme apresenta por si só algumas ambivalências difíceis de pontuar pelo tipo de filme, mas que com uma reflexão atenta podem aparecer. Tudo que se apresente, desde o título, o trailer, até os momentos em que se começa assistir, parece fazer parte de uma lógica, quase como uma ode à violência ou espetacularização do crime que é absolutamente condenável. Logo de cara, isso causa certo transtorno, algo como “será que é isso que estou vendo?”. É porque o que se vê são três caras bem idiotas malhando, tomando anabolizantes, ficando tristes e pegando o máximo de peso possível, ou então tendo de enfrentar uma impotência precoce.
É a partir daí que Michae Bay passa a perna no espectador: ele compõe um filme de facílima fruição, como se estivéssemos vendo um besteirol, mas apresenta um absurdo que vai sendo todo o tempo comentado por ele, em inserções de vozes em off tanto das personagens quanto de interferências com legendas, e assim, o filme ganha uma forte ironia naquilo que toma a tela. A violência, então, se torna ou excessivamente grotesca, imprópria e causa asco, ou então se transforma em uma comédia de erros. Perguntamo-nos o tempo todo: “como pode? Como esses caras podem ser tão burros?”. Aquilo que parece um filme idiota vira, como que do nada, uma obra que merece algum destaque, mesmo que pequeno.
Sem Dor, Sem Ganho apresenta novamente um diretor estranho: que gosta de peitos, explosões e tiros e parece se divertir muito com isso. Não parece estar dentro de uma linha de filmes que se aproveitam do gênero para ganhar alguma grana, mas sim da obra de um diretor que se fascina por essas histórias absurdas e se debruça sobre elas. O mais bacana é que enquanto em outras películas Bay gastava por volta de U$ 200 milhões, este custou apenas U$ 26 milhões, e isso sem perder nem um pouco da qualidade. Talvez ele tenha aprendido com seus próprios personagens: a economia e as pequenas coisas da vida, afinal o “sonho americano” é tão violento quanto qualquer guerra.
O filme está em cartaz no Cinemaxx Mercado Estação, às 21h. A censura é 18 anos.
http://www.youtube.com/watch?v=vFGyr1-9gD4
Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo, letrista, crítico, poeta e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, onde atualmente é graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro
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