Cidade

Solstício do Som leva 60 atrações gratuitas aos petropolitanos a partir desta terça-feira

Pensar a cidade é nada mais que pensar em povo. Não existe uma abstração; uma cidade que se deve mudar ou ajudar; mas sim pessoas que tem demandas, interesses, impulsos, vontades e a função de todos nós, inclusive dos governos, é fomentar e, se possível, realizar esses desejos. O Solstício do Som apareceu justamente para suprir uma demanda de cultura na cidade e, aos poucos, foi ganhando forma, força e vida. Hoje é o principal festival de música independente de Petrópolis com extensa programação de bandas locais com conteúdos e repertórios próprios.

Sim, nossa cidade tem isso! Mais do que motivo de orgulho, temos motivos para comemorar e acompanhar. Para entender mais sobre o evento, o Portal Acontece em Petrópolis entrevistou João Felipe Verleun, um dos criadores e principal organizador do evento. Confira a entrevista:

Aep – Quando acontecerá o Solstício do Som 7 e quais as novidades e mudanças em relação aos eventos anteriores?

O Solstício do Som 7 – Verão 2013 acontecerá entre os dias 10 e 21 de dezembro. Como principais mudanças em relação às edições anteriores eu destacaria o local, pois, com as obras na Praça da Liberdade, pensei muito a respeito de um outro lugar, voltar às origens, ou resgatar locais como a Praça da Inconfidência ou a Praça Dom Pedro. Pensou-se também no Palácio de Cristal, mas lá há toda uma extensa programação de Natal. Foi quando pensei no cenário belíssimo e na distância razoável de residências que a Praça Princesa Isabel oferece. Além disso, teremos uma nova parceria para a equipe de som e iluminação. No mais, podem esperar o mesmo espírito encantador e cerca de 60 apresentações musicais de todos os gostos e níveis ao longo desses 12 dias.

AeP -Se você fosse fizesse uma retrospectiva das sete edições, o que você diria que o evento atingiu e quanto ainda falta atingir, ou seja, o quanto de mudança ele gerou na cidade e o que ainda falta ser feito?

Acho que o principal legado do Solstício do Som é reascender, ou talvez inflamar, o espírito criativo e artístico do petropolitano, sobretudo na música, ampliando essa sede de produção e consumo cultural, por muitas vezes reprimida por diversos fatores. É formar novos técnicos, novos músicos, é acostumar o público a encontrar entretenimento. Muito difícil falar de retrospectiva, levaria horas, mas tenho o sentimento de que o objetivo dele não só é constantemente atingido, como me surpreendo com outros impactos muito positivos e vou descobrindo a medida que o evento ganha em notoriedade, importância e referência. Trata-se de um coletivo esforço de realização.

AeP -A impressão que eu tenho, sempre que vou ao Solstício, é que ele não é um evento apenas musical. É algo de produção de uma comum-idade. Como você vê a música extrapolando o seu âmbito e atingindo outras esferas da sociedade?

No caso do Solstício, o fato de ele necessariamente acontecer em uma praça pública do Centro da cidade, sem cobrança de ingressos e executado sempre de forma bastante concisa e comunitária, contagia o público, garante acesso universal. O evento em si tem seus fãs, inclusive das próprias bandas. Além de trazer uma missão de integração responsável com o ambiente urbano a partir da ocupação desses espaços para o uso coletivo de entretenimento e exposição artística, estamos falando de expressão, autoestima, sentimento de pertencimento e as consequências são o zelo, a preservação, etc.

AeP -Tendo em vista todos os problemas que o Solstício do Som já teve com os moradores dos arredores, como você avalia essa polarização que se dá em nossa cidade e de que maneira ela pode ser resolvida?

Acho natural o conflito de interesses. Ambos têm razões em argumentar por um lado ou o outro, mas sinceramente eu não vejo polarização. A maioria dos moradores se beneficia da realização de um evento artístico tão próximo de casa, respeitando-se os horários e todas as recomendações das instituições públicas, não há problema algum, é um direito da população ter acesso a isso. Muitas vezes é uma pequena minoria insatisfeita que traz a impressão de um conflito ou uma polarização maior, sempre querendo isolar o jovem e a cultura em uma redoma distante. Eu penso que o Centro da cidade deve ser o local para que essas manifestações aconteçam, assim, quem desejaria se manter distante delas, poderia considerar se estabelecer distante do Centro. Eu sempre morei no Centro, aqui é o meu “bairro”, e acredito que com mais atividade artística e outros eventos, o próprio perfil do morador do Centro tende a se modificar. A palavra é integração.

AeP -O que você acha da inserção de órgãos públicos ou de empresas privadas dentro do Festival? Você acha que em algum momento isso vai ter de acontecer ou você acha que isso seria prejudicial e descaracterizaria o que há de mais interessante no evento?

Qualquer parceria é sempre muito bem-vinda. No início do movimento, há três anos, era necessária uma distância desses órgãos pelo próprio caráter independente da iniciativa. Foi essencial para que ele fosse gerado. O apoio de empresas sempre esteve presente, raramente financeiramente, mas ao menos com alguma ajuda na estrutura do evento. Na última edição já ouve uma parceria, pela primeira vez, com a Prefeitura Municipal de Petrópolis, parceria esta que tende a ser ampliada, o que é benéfico e coerente, uma vez que estamos recebendo uma resposta da administração pública para incentivar o crescimento e realização de um evento de interesse público, daqueles que contribuem através dos impostos. Não há parceria que venha a ser prejudicial, a forma como ela é tratada que determina a descaracterização ou não, isso realmente limita um pouco as possibilidades, mas me preocupo muito mais com a essência do Solstício do Som do que com grandes rendimentos ou produções enormes. O Solstício do Som deve ser um evento sustentável e ser capaz de acontecer independentemente de apoio, porém, todo apoio é sempre uma honra e sou grato toda vez que uma nova parceria é firmada.

AeP -Você é um cara que sempre lutou contra o que chama de “petropessimismo”. Como você acha que podemos inverter essa lógica de achar que nada em nossa cidade é bom ou tem sucesso, e de que maneira o Solstício existe para desmentir o pessimismo?

Acho que o Solstício do Som é só mais uma das diversas demonstrações de que algo feito com carinho, honestidade e sinceridade, dificilmente encontra razões para o fracasso. Destacaria o Estúdio S, maior fomentadora da cultura alternativa da cidade atualmente. Percebo que o petropessimismo é visível naqueles que não têm competência suficiente para realizar e, portanto, buscam uma culpa abstrata para isso, não pode ser sua incompetência, mas a zica que a cidade é, coisas assim, sabe? Sem dúvida essa lógica pode e deve ser invertida com otimismo e sentimento coletivo. Se sentir parte da cidade, amar Petrópolis, ser um bom cidadão, respeitar as pessoas e o espaço público, transmitir esse sentimento adiante, dizer com orgulho mundo afora que você é daqui e explicar pra quem não conhece onde e como é, oferecer passeios (facilmente) encantadores aos visitantes, enfim, é ser um cidadão petropolitano.

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