Da fachada, olhares curiosos tentam encontrar os “sete erros” da Casa de Petrópolis. A curiosidade é de turistas e moradores da cidade e o mito tomou tamanha proporção que durante muito tempo o icônico imóvel da Avenida Ipiranga, construído entre 1879 e 1884, ficou conhecido como a Casa dos 7 Erros. Mas, afinal, esses “erros” existem? Quais são eles? De onde surgiu essa história?
Quem ajuda a desvendar o mistério é o Luiz Aquila, bisneto de José Tavares Guerra, o dono original do imóvel. Ele explica que esse nome surgiu por acaso, fruto de uma brincadeira que os condutores das vitórias faziam com os turistas ao passar pela casa. Devido às proporções assimétricas dos lados da casa, a proposta era desvendar quais as diferenças existiam entre cada um deles.
“E essa brincadeira foi tomando grandes proporções, até que o imóvel ficasse conhecido como Casa dos 7 Erros. Mas a realidade é que só vemos a casa como unidade por causa da diferença, porque se ambos os lados fossem iguais, ela teria um eixo no meio e pareceria duas casas geminadas. E eu, particularmente, adoro isso: o que dá unidade é a diferença, assim como o ser humano”, explica Aquila.
O imóvel foi projetado pelo engenheiro alemão Karl Spangenberger, um chalé eclético em estilo vitoriano. A construção feita em cal e tijolos exibe fachadas em três pavimentos e porão alto. Já a cobertura de telhas e com inclinação dupla apresenta janelas de lucarna nas fachadas principal e laterais e é ornamentada com cresteria e outros elementos decorativos como pináculos metálicos pontuando as quinas do telhado. O uso extensivo de detalhes arquitetônicos em madeira como balcões, marquises e beirais conferem ao chalé atributos característicos da casa de campo romântica.
No segundo e terceiro pavimentos, as janelas duplas são acompanhadas de balcão com tipologias diferenciadas. No primeiro torreão direito apresenta janela tripla proeminente. O estreito corpo central, que se constitui somente até o segundo pavimento, abriga no térreo o pórtico principal elevado por escadaria de laço único. Já o arco da entrada é sustentado por colunas compósitas e confere um toque clássico à fachada.
Outros nomes da casa
Denominada atualmente como Casa de Petrópolis, o imóvel já recebeu inúmeras nomenclaturas, seja oficialmente ou aquelas batizadas pela cultura popular. Mansão Tavares Guerra, Casa da Ipiranga, Casa dos 7 Erros e até Casa Mal Assombrada. A origem deste último nome também é curiosa e remete a um membro da família: a Maria Lysia Tavares Guerra, filha mais nova de José Tavares Guerra.
Responsável pela casa ter sido preservada em seu estilo original, a tia Loca, como era chamada, foi a última a viver no local e trancava os salões principais, sem deixar que ninguém, nem mesmo os membros da família, entrassem. Ela faleceu em 1981 e, por ter feito voto de castidade, dedicou sua vida aos sobrinhos e à Casa.
“O mito surgiu porque muita gente que passava em frente à Casa entre as décadas de 1960 e 1980, jurava ter visto o fantasma de uma mulher segurando uma vela no segundo andar. A mulher, de fato, estava lá: a tia Loca, mas estava vivíssima”, explica a historiadora e atual diretora da executiva da Casa de Petrópolis, Rachel Wider.
A Casa de Petrópolis
Rebatizada de Casa de Petrópolis, seu nome exerce duplo significado. Luiz Aquila explica que esta era a casa de veraneio da família e, por isso, eles se referiam a ela como a “Casa de Petrópolis”. “Então tem esse valor afetivo para gente. Quando surgiu a ideia de transformar esse espaço em um instituto de cultura, pensamos em adotar essa nomenclatura”, diz.
Já o seu segundo significado é por ser um patrimônio que pertence a Petrópolis. “Por aqui nós temos inúmeros museus e palácios, e casas atribuídas a personagens significativos da nossa história. Mas quando falamos da Casa de Petrópolis é essa que vem à nossa mente, por isso ela recebeu este nome”, destaca Aquila.
Parte do roteiro a pé de pontos turísticos da cidade, a Casa de Petrópolis fica no Centro Histórico, no número 716 da Avenida Ipiranga. Seu funcionamento acontece de quarta a domingo, das 10h às 16h. O espaço conta com estacionamento rotativo. Os ingressos para visitar seu interior custam R$ 16 (inteira) e R$ 8 (meia-entrada).