Um dos grandes nomes da literatura nacional, a escritora Ana Maria Machado retornou à cidade para participar da segunda edição do Festival Literário Internacional de Petrópolis – Flipetrópolis, realizado no Palácio de Cristal.
Além de escritora, Ana Maria iniciou sua carreira como pintora, tendo atuado ainda como jornalista e professora em escolas e faculdades. Durante quase duas décadas, foi uma das proprietárias da primeira livraria do país especializada em livros infantojuvenis, a Malasartes.
Ocupante da cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Letras (ABL), que presidiu entre 2011 e 2013, Ana Maria Machado tem mais de 100 títulos publicados, entre romances, ensaios, contos para todas as idades, tendo um grande destaque por sua vasta produção infantojuvenil.
Ao lado de Conceição Evaristo, Ana Maria Machado foi uma das homenageadas na primeira edição do Flipetrópolis. Nesta edição, ela participou das mesas “As Mulheres na Via-Mão da História”, ao lado de Flávia Oliveira e Lívia Sant’Anna Vaz; e “As Fronteiras entre o Real e o Imaginário”, com participação da ministra Cármen Lúcia, Andréa Pachá e Jamil Chade.
Confira abaixo o nosso bate-papo:
AeP: Embora a senhora tenha publicado livros para todas as idades, é fortemente associada à literatura infantojuvenil. Qual é o papel das escolas da formação de leitores?
Ana: O papel das escolas é absolutamente crucial. Nós devemos aos professores, a expansão do mercado leitor no Brasil. Ultimamente, com a diminuição das compras governamentais e uma certa retração que aconteceu ao longo dos últimos anos, é muito preocupante que isso tenha diminuído não só nas turmas das crianças, mas na própria formação dos professores, que estão tendo menos aula sobre literatura infantil e se sentindo menos à vontade para trabalhar com esse material. Até alguns atrás era muito estimulado e hoje está menos.
Quais histórias gostava de ler na infância e qual foi a mais marcante?
Ana: Estou com 84 anos, na minha infância não tinha a variedade de livros infantis que tem hoje. Então, acho que toda a minha geração foi muito marcada por Monteiro Lobato. Alguns aspectos da obra dele não envelheceram bem, porque retratavam os preconceitos da sociedade na época e que ainda estão aí até hoje. Ao mesmo tempo, Lobato foi a primeira pessoa a falar contra as queimadas, a favor da ecologia, da proteção do meio ambiente, etc. Eu acho que devo muito a ele pelas referências à uma literatura clássica, ele tinha ‘Dom Quixote das crianças’, falava das fábulas tradicionais, na mitologia grega com ‘Os 12 trabalhos de Hércules’… foi uma imersão na cultura geral que foi muito importante. Lobato era muito controvertido, não era na época e depois ficou, mas alguma coisa ficou também de contribuição positiva.
Sendo autora de sucessos que vão desde “Menina bonita do laço de fita”, “Bisa Bia, Bisa Bel”, até “Tropical sol da liberdade” e “Infâmia”, é mais difícil escrever para crianças ou para adultos?
Ana: São coisas diferentes, mas acho que, de alguma forma, para criança é mais difícil porque toda escrita literária pressupõe um diálogo com outras obras já escritas antes, referências. Quando a gente escreve se estabelece umas ‘piscadelas’ para o leitor, uma referência à uma cultura comum, seja a cultura dos povos tradicionais, uma cultura clássica, etc. No caso do leitor criança, o repertório dele é muito menor, então a gente trabalha com mais limitação.
Qual livro mudou a sua vida e a senhora recomendaria que todos lessem?
Ana: Dom Quixote é um livro que li e reli ao longo da vida, em momentos diferentes, desde o ‘Dom Quixote das crianças’, do Monteiro Lobato que li ainda com uns 10/11 anos, mas voltei a ele várias vezes. Depois estudei literatura, fiz especialização em Literatura Espanhola, o reli e sempre que volto a ele, descubro coisas novas. Eu acho que é um livro muito marcante para essa vontade de consertar o mundo, de desfazer as injustiças e enfrentar tudo, e aí descobrir que muitas das coisas são imaginárias, mas ao mesmo tempo têm outras que não são imaginárias e estão nos atacando… Quixote para mim é novo a cada releitura.
*Com informações da Agência Brasil
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