Nunca entendi porque Se Beber, Não Case não se chamou A Ressaca, como seria a tradução literal de The Hangover. Talvez quem deu esse nome não beba e, portanto, jamais poderia saber como são aqueles momentos seguintes a uma boa noitada: dor de cabeça, flashes indo e voltando, dores pelo estômago, e uma noite inteira para suportar nas costas e na consciência. Mas o que acontece em Se Beber, Não Case Parte III (2013) é que a fórmula dos filmes anteriores é alterada. E pra pior.
O filme tem como foco o fato de Alan (Zach Galifianaki) não estar tomando seus remédios e vir tendo, por conta disso, problemas de adequação social. Para isso, seus amigos Stu (Ed Helms), Phill (Bradley Cooper) e Doug (Justin Bartha) são designados a levar Alan até uma clinica de ressocialização. O que acontece é que eles são logos sequestrados e mandados a procura de Mr. Chow (Ken Jeong), para recuperar barras de ouro que ele havia roubado dos sequestradores. A partir daí é que se dão as aventuras de sempre, passando por diversas cidades, incluindo Tijuana e Las Vegas, e tendo de enfrentar crimes, problemas com a polícia, entre outros.
Acontece que, sem deixar de ser um filme engraçado que mantém o ciclo alucinado de coisas nonsense acontecendo por minuto, com diálogos rápidos e situações e ambientes que se alternam rapidamente, ao alterar a fórmula básica, muita coisa se perde. A melhor parte dos filmes se baseava no fato de que, após uma noite de diversão, todos acordavam em um lugar sem ter qualquer ideia do que se passava. Assim, todo a trajeto da noite anterior deveria ser refeito, através de lugares que eles nem se lembravam que estiveram. Ou seja, não há mais pessoas desaparecidas, tatuagens na cara, bebês encontrados no armário, sexo com travestis. Se Beber, Não Case Parte III virou um filme em que ninguém bebe, mas casa, e isso não tem o mínimo interesse, se comparado às obras anteriores.
Todd Phillips, que assina a direção, se garante na empatia das personagens e no afeto que já criamos com eles para que se mantenha a diversão. Dar espaço demais a Mr. Chow é também outro erro, uma vez que a existência dele era interessante por ser um bandido completamente alucinado com quem eles, os três amigos, mantinham uma relação estranha de diversão durante a ausência da memória e presença do teor etílico. Agora, com todos sóbrios, a distância entre eles fica clara e todo aquele relacionamento em estado de exceção não se dá.
Por fim, se pode dizer que o filme ganha algum afeto, um pouco de humanidade e até Alan, o mais nonsense entre os nonsense, mostra seu lado humano, carinhoso, cheio de fraquezas, parecendo querer mudar o tipo de vida que leva. Ou seja, ao invés de todos alucinarem, agora é Alan que voltará ao normal. Quem gostaria disso? Justamente por isso, esse é o último filme da trilogia. É engraçado, é gostoso de ver, vai deixar saudades, mas não há dúvida de que acabou na hora certa. É como se diz “quem casa, quer casa”, logo a loucura, de uma vez por todas, precisa parar.
O filme está em cartaz no Cinemaxx Mercado Estação com sessões às 15:00h / 17:00h / 19:00h / 21:00h, porém, no sábado (15), só haverá sessões às 19:10h e 21:10h.
Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo e poeta, formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO – Univesidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde atualmente cursa Letras – Português/Literaturas.