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Festival de Inverno Sesc: [Crítica] A Garota do Adeus

Pouca gente conhece um ator por trás de seus personagens, maquiagens, máscaras, câmeras, festas e vida de glamour. Ali, na realidade do cotidiano, com suas manias e hábitos estranhos, sua insegurança e instabilidade no emprego, ele parece diferente, mais frágil. Às vezes, no céu com um sucesso, às vezes no inferno com um fracasso e, na maioria das vezes, no limbo, perdido, sem saber o que fazer e pra onde ir. E do seu lado, quem convive com isso? Sua família é quem paga todos os pecados e é obrigada a segurar as pontas. Estranha vida essa de ator, estranha, mas sempre divertida.

A Garota do Adeus, com direção de Elias Andreato, é uma comédia romântica adaptada do clássico do gênero do cinema, Goodbye Girl, e conta a história de Paula (Maria Clara Gueiros) e Lucy (Clara Garcia), mãe e filha que são abandonadas por seu marido e padrasto, um ator que recebe um convite para participar de uma produção cinematográfica na Espanha. O sujeito realuga o apartamento onde elas moram para um amigo, Hélio (Edson Fieschi, responsável pela adaptação do original), também ator. Assim, os três são obrigados a dividir o mesmo apartamento. Acontece que suas personalidades distintas causam muitas brigas e confusões até que, daquele caos, começa a surgir uma nova e bela relação.

O espetáculo é produto de uma adaptação de um musical da Broadway, feita por Fieschi, tomando como base esse musical. No entanto, como se sabe, um musical é feito de músicas e o espetáculo sem músicas se torna arrastado, entrecortado, com excessivas passagens de tempo e mudanças de ritmo. A história é bacana, inofensiva e divertida, o diálogo é rápido e eficiente como nos filmes americanos. Ambos são conduzidos com esmero: a grande questão fica mesmo por conta dessas constantes mudanças de cena, muitas vezes atrapalhadas pelo cenário.

O cenário atabalhoado confunde a cena, com excessivas portas, móveis e objetos que precisam todo o tempo serem carregados de lá para cá. Esse fato se destaca, principalmente, por conta de uma geladeira que ficou insistindo em não abrir, enquanto que uma porta se negava a fechar. Se é comum não se pecar pelo excesso, nesse caso, acho que se pecou. Assim como o cenário, a iluminação estava um bocado perdida, oscilando excessivamente entre cores e contrastes sem que conseguisse passar a ideia se era dia ou noite, como parecia a intenção e, algumas vezes, do nada começava a apagar e acender, acompanhando uma música de fundo.

Maria Clara, conhecida pelos personagens de novela e do Zorra Total, domina o humor como poucos, mas ainda se perde quando precisa amolecer, ser mais doce e romântica, por isso opta por uma personagem um cadinho mais presa ao estilo ácido, até quando não é necessário. Fieschi é excelente, exceto nas absolutamente desnecessárias cenas que acontecem de cortina fechada em que se adapta Ricardo III de Shakespeare. Aliás, podia ter cortado todo esse trecho, mas é comum na Broadway que se cite outras peças para dar certo tom intelectual ao que se vê.

A Garota do Adeus é um tipo de teatro antigo, que repete excessivos lugares-comuns ao gênero conhecido como “comédia de interior”, com uma sala, uma mesa e um sofá. De qualquer forma, é possível dar algumas risadas e passar por bons momentos. Poderia dizer que, para completar, faltaram as músicas do musical para dar o toque do afeto que parece que em meio a toda confusão quase que se perdeu.

 luizLuiz Antonio Ribeiro é dramaturgo, letrista, crítico, poeta e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, onde atualmente é graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro
Twitter: http://www.twitter.com/ziul

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