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Círculo de Fogo (2013) – Tecnologia que vende a si própria

A tecnologia 3D é uma das coisas mais estranhas que existe. Desde quando ela foi incorporada nas salas de cinema de forma definitiva, ou seja, assim que passaram a exibir exclusivamente filmes em 3D, alterou-se a forma de pensar, escrever, montar e realizar cinema. O problema é que esse tipo de filme serve somente para uma coisa: mostrar o 3D. Uma grande parte deles é feita para louvar e celebrar o próprio aparato tecnológico. Ao fim, o que se vê é o cinema fazendo cinema para mostrar cinema via tecnologia. E isso estraga tudo. Mas… Vamos falar do filme de hoje.

Círculo de Fogo (2013), do renomado Guillermo Del Toro, é a mostra de como o cinema serve para celebrar a si próprio e seu aparato. A sinopse do filme é simples: uns bichos bizarros vindos de outro mundo por uma fenda, chamados Kaiju, começam a destruir toda a Terra. Então, os humanos desenvolvem uns robôs gigantescos, chamados Jaeger, para combate-los. Basicamente, o filme é sobre umas pessoas que operam esses robôs com seus dramas, lamentos e frescuras, precisando lidar com suas crises do passado para salvar o mundo. O que dá esse toque de sensibilidade é: as máquinas são operadas por duas pessoas que, para evitar uma sobrecarga, se conectam através de neurotransmissores que dividem suas memórias e sentimentos.

Antes dos fãs começarem a me xingar, preciso dizer: Del Toro se utiliza de diversas referências do nosso imaginário infantil, desde as obras de monstros como robôs, até as destruições de cidade ao fundo, por golpes, socos em um mundo muito fragilizado por um buraco que divide, dualmente, a Terra em dois. O problema, a meu ver, está no fato de que referências, memórias, panos de fundo e incorporações folclóricas sem completa apropriação e transformação resultam em um produto nulo. O filme não funciona em NENHUM aspecto, aliás, a única coisa que funciona é que ficamos o tempo todo tendo certeza de que estamos vendo um episódio gigante e mais caro de Jaspion ou Power Rangers. E o pior: agora é para adultos, e não mais para crianças. Del Toro toma a estrutura para si, mas não lida com ela, não antropofagiza, não se distancia, fica demasiadamente colado nas próprias referências e, assim, o filme não acontece.

As personagens são caricatas demais, se repetem e não tem qualquer expressividade. Os dramas são patéticos e não causam qualquer empatia. Qualquer um que morresse ou vivesse seria irrelevante. É por isso que comecei a crítica falando do cinema 3D: o filme só funciona nas batalhas, nos tiros, nas imagens tremidas, nos efeitos 3D de perseguição e salvação do mundo. Só.

Há muito, Del Toro vem decepcionando com suas produções esquisitas de produtos que parecem ter virado marcas. Círculo de Fogo não possui nada que possa agradar a quem pretende assistir qualquer coisa que seja minimamente diferente: o filme se auto-anula e repete um passado amortecido sem renascê-lo. Sem trocadilhos, mas esse Pacific Rim (o nome do filme em inglês) doeu aqui: doeu fundo, doeu no rim. É isso.

O filme está em cartaz no Cinemaxx Mercado Estação, com sessões às 15:20h / 18:00h / 20:40h. A censura é 12 anos.

https://www.youtube.com/watch?v=R7J3RJcxv58

luiz

Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo, letrista, crítico, poeta e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, onde atualmente é graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro
Twitter: http://www.twitter.com/ziul

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