Algumas pessoas entendem a vida como método, prática, treino, exercício – uma composição baseada em uma práxis cotidiana e cartesianamente elaborada. Para eles, o mais importante é manter uma ética, um padrão. Por incrível que pareça, essas são as pessoas idealistas. Do outro lado, estão aqueles que entendem a vida como quebra, ruptura, exagero, força de rompimento de limites e só concebem um corpo quando lançado no mundo, corpo em um corpus social, à deriva, onde se perder é a única possibilidade de se achar. Esses poderiam ser chamados de libertários, para o bem, ou escapistas, para o mal. Entre esses dois, existe um pequeno conceito chamado dialética e, quando entre eles, esse conceito age, temos as maiores emoções possíveis de se conhecer e experienciar na vida. Dialética é a palavra que descreve Rush – No Limite da Emoção (2013), de Ron Howard.
O filme, ambientado na época de ouro da Fórmula 1, conta a história do metódico e excelente, Niki Lauda (Daniel Brühl), e do apaixonado e sem limites, James Hunt (Chris Hemsworth). Ao acompanhar por anos a disputa pessoal entre ambos, na vida e nas pistas, aos poucos a obra monta um tratado de como algumas histórias se dão justamente na oposição dialética de forças divergentes e equânimes. Enquanto um é louco e força todos os limites na busca de um título, o outro tem seus dogmas abalados pela necessidade de ser sempre um pouco melhor rumo à perfeição.
Ron Howard (o mesmo de Uma Mente Brilhante [2001] e Anjos e Demônios [2009]) faz um filme absolutamente apaixonante, em todos os níveis, cuja maior qualidade é ser capaz de se voltar para todos os públicos. O diretor chega ao auge da sua maturidade artística e consegue misturar gêneros com uma habilidade única: a ação espetacular das pistas e os dramas pessoais das personalidades dos pilotos gradativamente se acumulam em um processo que, aos poucos, se releva como uma zona de fronteira perigosa, impossível. A todo momento, vem-nos a frase na cabeça: “se continuar assim, alguém vai morrer”, e justamente nesse ponto, o filme tem a brilhante capacidade de emocionar. Parece-me que Lauda se aproxima do Nash de Uma Mente Brilhante e, a relação entre eles lembra a de Frost/Nixon (2008, também do diretor), como se algumas obsessões frequentes ainda estivessem sendo tema para sua produção artística.
A direção de arte, a trilha sonora, a fotografia, todas primorosas, fazem do filme, talvez, a melhor pedida de obra biográfica do cinema hollywodiano de 2013 e, provavelmente, uma das melhores películas sobre esporte dos últimos tempos. Emoção e velocidade, sem pieguices, é o que se pode ver em Rush – No Limite da Emoção.
O filme está em cartaz no Cinemaxx Mercado Estação, com sessões às 15:20h / 18:00h / 20:40h.
Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo, letrista, crítico, poeta e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, onde atualmente é graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro
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