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Crítica: O Ataque (2013)

É uma conta esquizofrênica, mas podia ser verdadeira: existem 6 bilhões de pessoas no mundo e pelo menos um terço delas tem algum motivo para reclamar da dominação do imperialismo americano. Desses 2 bilhões, 1/5 talvez aceitasse algum ato violento contra os Estados Unidos. Desses, quantos não apoiam a guerra? E entre eles, quantos malucos não preparariam com as próprias mãos um ataque contra a grande potência mundial? Este é O Ataque (2013), de Roland Emmerich.

O filme conta a história de Cale (Channing Tatum), um homem vindo da guerra, com problemas com sua filha Emily (Joey King), que tenta uma vaga como agente especial da Casa Branca. No dia da entrevista de emprego, ele leva Emily para uma visita, quando dentro da sede do governo, mercenários, ex-militares e o chefe da segurança do presidente armam um ataque, fazem diversos homens de refém e tentam enviar bombas atômicas para o Oriente Médio. O objetivo: acabar com a guerra de vez. Obviamente, é Cale que vai defender tudo e todos sozinho, protegendo o presidente (Jamie Foxx), um homem virtuoso e do bem que só quer a paz.

Os pontos positivos do filme ficam a cargo das cenas de ação bem escritas e executadas, que visam se manter sempre no limite máximo do impossível, dentro ainda do verossímil, mas colocando o presidente em riscos exagerados e violências utópicas até para os maiores dos terroristas. A Casa Branca tomada, sendo invadida em segundos, cercada por um exército incapaz, coloca em cheque diretamente a ideia de que um governo é uma rede de relações, ali, o presidente é um ser onipotente, dono de 90% das decisões e, na sua ausência, o que se vê é um clima de anarquia geral.

O Ataque, sem deixar de ser mais um filme da consciência pesada americana sobre as violências que comete, é também uma reflexão sobre como a destruição que eles causam não está apenas no nível físico – gerando mortes – mas também no psicológico. O chefe de segurança pretende destruir todo o Oriente Médio simplesmente porque o seu filho havia sido morto em uma guerra que, pretensamente, o presidente não teve coragem de terminar, ao retirar as tropas. De certa forma, isso joga novamente na cara dos americanos a ideia de que eles entram com extrema facilidade na guerra, mas tem extrema dificuldade em sair ou simplesmente assumir que uma guerra acabou e nada mudou. A utopia pacifista americana sempre fracassa. Sempre. A guerra, evidentemente, ainda dá muito lucro por lá.

O filme, repleto de ação, expõe a vulnerabilidade de um governo feito por pessoas educadas não para agir, mas para ser “agentes”. A diferença é clara: o agente é treinado, quem age é educado. Roland Emmerich, sem deixar de explodir coisas, produzir ação e transformar os monumentos dos Estados Unidos em ruínas, conseguiu dar um toque de capricho ao filme, um cuidado que, com o trabalho de casa bem feito, resulta em ótimos produtos. O Ataque é bacana: explode, entretém e acalma os inconscientes violentos dos ocidentais.

O filme está em cartaz no Cinemaxx Mercado Estação, com sessões às 15:20h e 20:50h. A censura é 14 anos.

 luizLuiz Antonio Ribeiro é dramaturgo, letrista, crítico, poeta e flamenguista. É bacharel em Teoria do Teatro pela UNIRIO, onde atualmente é graduando do curso de Letras/Literaturas. É adepto da leitura, pesquisa, cinema, cerveja e ócio criativo. Desde 2011 é membro do grupo Teatro Voador Não Identificado. Facebook: http://www.facebook.com/ziul.ribeiro
Twitter: http://www.twitter.com/ziul

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