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Nas últimas semanas, o caso do estudante Humberto Moura , de 23 anos, que morreu após ingerir álcool em excesso, ganhou repercussão nacional e invadiu as páginas dos jornais. Longe de ser um episódio isolado, o abuso de bebidas alcoólicas por parte dos jovens é cada vez mais frequente e indica que o problema, além de ser cultural, também é uma questão de saúde pública.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de álcool no Brasil supera a média mundial e deve continuar crescendo nos próximos anos. Os dados mostram que o brasileiro com mais de 15 anos de idade chega a consumir 8,7 litros de álcool por ano, enquanto, no restante do mundo, a média é de 6,2 litros por indivíduo. Os homens são os maiores responsáveis pelo abuso, ingerindo 13 litros anuais. Ainda de acordo com a pesquisa, em 2012, o excesso de bebida alcoólica causou a morte de 3,3 milhões de pessoas, em diferentes países. Comprovando a seriedade da questão, um levantamento feito pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) revelou que o Brasil está entre os primeiros da lista com as maiores taxas de mortalidade causada pelo álcool. O estudo foi desenvolvido com base no continente americano.
A psicóloga da Clínica Maurício Baisch, Mere Elen Keler Teixeira, explica que os quadros de abuso, intoxicação e dependência de drogas apresentam ação definida sobre o sistema nervoso central e, consequentemente, sobre o psiquismo. De modo geral, essas substâncias produzem uma sensação de prazer ou excitação, pois seus efeitos estão diretamente ligados às áreas de recompensa do cérebro. “O álcool pode levar qualquer um a se expor a situações perigosas e, dependendo da quantidade de doses, pode ser fatal. Quem bebe perde temporariamente as funções responsáveis pela inibição e a capacidade de julgar o certo e o errado”, explica Mere Elen.
A psicóloga lembra que as drogas sempre estiveram presentes na história da humanidade, mas não da mesma forma. Ela explica que, ao longo dos anos, é possível observar o uso em diferentes funções e contextos culturais, no entanto, há sempre a ligação ao desejo do homem de alterar o estado de consciência, entender as emoções, intensificar os sentidos e até mesmo transcender. “Muitos jovens expressam no álcool sua vontade de melhorar ou consertar a realidade vivida. A bebida acaba servindo como uma porta para seus conflitos, além de ser um método para evitar o sofrimento”, comenta.
Em uma sociedade onde o consumo de álcool é fortemente incentivado pela mídia, a bebida acaba sendo ferramenta de aceitação em um grupo, o que, muitas das vezes, ocasiona o excesso.
A psicóloga reforça a importância da família, tanto na prevenção, quanto na intervenção, em caso de abuso por parte do jovem. “Ao perceber que a pessoa está exagerando, os parentes devem procurar ajuda especializada, para que seja iniciado o tratamento o quanto antes. É importante ter em mente que quanto mais tempo de uso, maiores são as dificuldades enfrentadas na direção à abstinência. A psicologia irá auxiliar o sujeito na reflexão sobre a sua relação conflituosa com a droga, para que ele tenha em mente que, neste caso, o consumo moderado não é uma possibilidade”, concluiu Mere Elen.