Entrevistas

Stand-up de Fernando Ceylão

Crédito: Marianne Wilbert

Na última quarta-feira, Fernando Ceylão se apresentou no Festival de Inverno do Sesc em Petrópolis com seu show “Comédia no título” – e não decepcionou.

Uma das revelações do stand-up comedy brasileiro, Ceylão antes mesmo de entrar no palco já arrancava risos da platéia com suas versões bem-humoradas de músicas conhecidas como “Say you, say me” de Lionel Richie em que o humorista cantava “Say you, Ceylão”; “Hello, Goodbye” dos Beatles que ficou algo do tipo “You say goodbye and I say Ceylão” e a música cantada por Tom Jobim, Chico Buarque e Miúcha na abertura de Viver a vida, “Sei lá… A Vida tem Sempre Razão”, ficou “Sei lá, Ceylão…” e com isso, ele entra no palco e começa seu show.

Abordando temas como relacionamentos, cinema, lanchonetes e até mesmo o estranho fascínio que os seres humanos tem pelo plástico bolha, Ceylão fala de suas dúvidas de um modo muito criativo como “se um cego tateia um rosto cheio de espinhas, será que ele acha alguma mensagem em braile?”, entre outras tiradas muito inteligentes, que arrancou risos de pessoas de todas as idades, do início ao fim.

Como todo show de humor, quem se senta de frente para o comediante acaba sendo o alvo de piadas e dessa vez não foi diferente.  A interatividade com o público é uma característica desse tipo de show e só o torna mais engraçado e agradável para os telespectadores, pois é a chance que se tem de fazer parte daquilo, mesmo que seja para ser “a vítima”.

Quando o show ia chegando ao fim, um “ahhhh” da platéia fez com que o show durante mais um pouco, pois Ceylão gostou tanto de sua audiência que também não queria ir embora. Ele perguntou para as pessoas que assunto que elas queriam ter ouvido e que ele não comentou e isso rendeu mais alguns minutos de boa risada.

Ao final do show, as pessoas puderam comprar seu livro, “Cabeça de Gordo” e ter uma recordação autografada. Para quem não pôde conferir seu stand-up, Fernando Ceylão se apresentará em Teresópolis (23/7) e Nova Friburgo (21/7).

A seguir segue uma entrevista feita pelas repórteres Nathália e Gisele:

Você já esteve em Petrópolis?

Como ator sim, numa peça dirigida por SusanaVieira, nós estreamos aqui. Foi bom, foi ótimo. Gostei muito do público daqui.

Acredito que você tenha um roteiro, mas o quanto você se permite improvisar, brincar com a platéia?

Assim, na verdade eu leio as coisas que estão no papel igualzinho, todo dia. Mas eu me lembro do meu último show, por exemplo, que estava lotado e o único lugar vazio era ao lado de um japonês onde  ele colocou uma pasta com a foto de uma mulher. Parecia aquelas coisas de Oscar com a cadeira reservada, então durante o show inteiro eu brinquei com ele. Eu me permito muito brincar com as pessoas, mas não a ponto de mudar o show.

Você também já trabalhou como diretor, mas agora você é mais conhecido como ator. Você pretende voltar para trás das câmeras?

Eu escrevi, dirigi e atuei  em “Amorais” que estreia semana que vem no canal do Brasil,  é um seriado de dez episódios que teve a primeira temporada ano passado com treze episódios e dirigi um filme agora também. Eu dirijo mais que atuo e curiosamente a vida vai me chamando para atuar, mas não é algo que eu procure; eu acho que sou o único ator do RJ que não tem aquele videozinho da Globo. Eu estou trabalhando muito como ator, e estou trabalhando com o Wagner Moura num filme de aventura onde nós dois somos detetives. O filme se chama “O Homem do Futuro”, é do Cláudio Torres (diretor de “A mulher Invisível”) que é um cara que eu já adorava que tinha umas ideias tipo comédia americana com umas tiradas bem engraçadas. Agora também estou voltando para o “Zorra Total”. Estou numa fase bem ator.

Qual a maior diferença entre o filme e um teatro?

De todos o mais difícil é TV porque você não ensaia, já no teatro você vai expor, tem aquela dificuldade do momento, mas você está seguro ali, pois  você ensaiou meses. No cinema você também ensaia e tem aquela segurança do plano, cada fala é um plano. A grande diferença entre o cinema e o teatro é que atuar para a câmera é muito diferente. No filme “O Exorcista” por exemplo, o diretor deu um tiro do lado da atriz e a reação dela foi genial, a câmera pode registrar aquilo e usar no filme. Já no teatro, você não pode fazer isso. No cinema você tem mais controle sobre sua ação.

Voltando um pouco para o espetáculo, você tem um roteiro, mas cada apresentação é diferente. O que diferencia a apresentação em Petrópolis do Rio, por exemplo?

No Rio teve uma fase que eu me apresentava muito em Copacabana e na Barra, no mesmo dia eram apresentações muito diferentes. Na Barra era um pólo mais “aqui em cima”, não só porque o teatro era muito maior, mas porque o público estava esperando uma coisa mais “estreônica”, já Copacabana era mais intimista. Quando sai do Rio, o que muda são as referências, por exemplo, no show eu falo de Copacabana e fico pensando, “será que o povo de Petrópolis tem noção do que é Copacabana como o pessoal da Barra?”.

Você tem alguma superstição antes de subir ao palco, como usar um amuleto, por exemplo, ou sente aquele friozinho na barriga…?

O friozinho eu não tinha mais, mas hoje eu tenho porque estava há quatro meses e meio sem fazer show.

As pessoas já vem esperando dar altas gargalhadas, você se sente pressionado com isso?

Eu me sentia, mas aí um dia decidi que não ia fazer mais graça, eu decidi que ia contar para as pessoas as observações que eu fiz da vida. Quando você começa com uma boa primeira piada e arranca risadas, você emenda e segue o show, mas dá um nervosismo. Hoje por exemplo eu tive um pesadelo, que eu estava na escola e não sabia nada. Há anos que eu não tinha esse pesadelo. Tem a ver com entrar no palco e também não saber nada, dá esse medo. Uma coisa que eu aprendi também foi a comentar quando não rirem, ao invés de ficar sem graça. Eu pergunto –  “vocês não acharam graça nisso, por quê”?, quando a piada é muito ruim eu assumo isso e fico mais tranquilo. Acho que é por isso que dizem que comédia é mais difícil que drama, porque artisticamente eu não acho que seja, os dois são difíceis, acho que a cobrança e a resposta na comédia é maior, tudo que eu falo a pessoa tem que rir, já no drama nem tudo que você fala a pessoa tem que se emocionar.

Foi você que escreveu o livro?

Sim, é uma reunião de tudo que eu já falei nos shows.

Por que esse título, “Cabeça de Gordo”?

Foi a editora que sugeriu. Eu dividi por assunto, então o primeiro capítulo era “Cabeça de Gordo” falava de dieta e tal, então a editora me fez essa proposta de todos os capítulos serem “Cabeça de …”; tinha um capítulo que o nome era algo do tipo “Todos me amam, menos você” e me falaram para botar “Cabeça de Casal” ou “Cabeça de Marido”. Acharam que era um bom título já que eu começo falando de gordo, então ficou “Cabeça de Gordo”. Tem umas partes que não são para gargalhar, que são para pensar, para ficar com aquilo na cabeça… Tem umas partes bem maneiras.

Você pretende continuar publicando?

Pretendo. Na verdade, eu gostaria de escrever um romance, mas só mais para frente porque romance é muito difícil.

Mas já tem algum rascunho?

Eu já tenho umas três ideias, mas agora eu estou numa fase de escrever muito roteiro de cinema. Focar nisso, para mim, sai muito mais naturalmente. Um romance não sairia tão natural, eu teria que me dedicar mesmo, parar tudo.

Marianne Wilbert

Jornalista, pós-graduada em mídias digitais.

3 Comentários

  1. Adorei a matéria e a entrevista! Todo o site está maravilhoso, ótimo conteúdo e aparência. Era bem de uma coisa assim que a gente precisava na cidade.

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