A nova varíola, que vem sendo chamada de “varíola dos macacos”, é uma doença infecciosa que tem assustado a população brasileira e já contabiliza mais de 250 casos no Rio de Janeiro, sendo dois em Teresópolis até o momento. Diante do aumento no número de casos no Brasil, o infectologista e professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis (UNIFASE/FMP), José Henrique Castrioto, esclarece algumas dúvidas sobre a doença.
O patógeno foi nomeado como Monkeypox em 1958, quando a infecção foi descoberta em macacos exportados da África para a Dinamarca. O nome une os termos “monkey” – macaco em inglês – e “pox” – que indica o pertencimento à família de vírus Poxviridae. Outros Poxvírus são, por exemplo, o vírus da varíola humana, já erradicada graças a um esforço global de vacinação, e o vírus da varíola bovina.
Posteriormente, foi verificado que os primatas não eram os hospedeiros preferenciais do Monkeypox, mas poderiam ser infectados, assim como as pessoas. Atualmente, não se sabe qual animal mantém o vírus na natureza. Acredita-se que roedores tenham um papel na disseminação da doença na África, onde o vírus é endêmico, isto é, com circulação regular.
É importante ressaltar que a doença vem sendo chamada de varíola dos macacos porque foi descrita, pela primeira vez, em macacos de laboratório. Contudo, esses animais são tão vítimas quanto os seres humanos. O surto atual vem mostrando que a doença está sendo transmitida de humano para humano.
Através de um comunicado publicado em 31 de maio, a Sociedade Brasileira de Primatologia informa que “apesar do vírus receber a nomenclatura de varíola dos macacos, o atual surto não tem a participação de macacos na transmissão para seres humanos. Todas as transmissões identificadas até o momento pelas agências de saúde no mundo foram atribuídas à contaminação por transmissão entre pessoas.
“É importante ressaltar que os macacos (primatas não-humanos) não são os ‘vilões’, e sim vítimas como nós (humanos), e não devem sofrer nenhuma retaliação, tais como agressões, mortes, afugentamento, ou quaisquer tipos de maus tratos por parte da população. O receio de contágio por transmissão desta e de outras doenças, como a febre amarela, pela proximidade com os macacos não se justifica. Muitos microrganismos afetam a saúde de primatas humanos e não-humanos, sendo que muitas vezes os primatas adoecem antes e isto nos alerta antecipadamente sobre a presença de uma doença que pode causar impacto sobre a saúde das pessoas. Ou seja, os macacos servem como animais sentinela sobre o risco de estarmos expostos a doenças.”
O que é a nova varíola?
José Henrique Castrioto: É uma doença infecciosa, causada pelo vírus Monkeypox, que pertence à mesma família do vírus que causava a varíola, doença erradicada na década de 1980. É importante destacar que a “varíola dos macacos” é uma zoonose, ou seja, uma doença que infecta os seres humanos a partir de animais que estejam com o vírus.
Como acontece a transmissão?
José Henrique Castrioto: Especialmente pelo contato pessoal e direto com secreções respiratórias, lesões na pele de pessoas que estão contaminadas ou por objetos infectados. No caso das gestantes, é possível infectar também os bebês através da placenta.
Como se prevenir?
José Henrique Castrioto: É muito importante utilizar a máscara de proteção, uma vez que a transmissão pode ser feita também pelas gotículas das vias respiratórias. Além disso, evitar lugares fechados, contato físico por meio de relação sexual, beijos e abraços com pessoas que tenham lesões na pele, além de nunca tocar nas feridas e nas roupas dos pacientes. Higienizar bem as mãos diariamente, especialmente, ao ter contato direto com objetos comunitários, em ambientes públicos.
Um editorial publicado na Revista Brasileira de Enfermagem alertou e criticou a estigmatização relacionada à homossexualidade, para que não aconteça o mesmo que ocorreu quando surgiram os primeiros casos de HIV. A própria agência das Nações Unidas para a Aids também mostrou preocupação com o fato de a mídia inicialmente ter reforçado estereótipos homofóbicos e racistas na divulgação de informações em torno da nova varíola.
José Henrique Castrioto: Independentemente de ser uma relação homoafetiva ou heterossexual, os riscos são os mesmos. A questão está se um dos envolvidos nessa relação sexual estiver infectado pelo vírus, sendo um agente transmissor da doença em potencial.
Quais são os principais sintomas dessa doença?
José Henrique Castrioto: O período de incubação do vírus é em torno de 07 a 21 dias. Após esse tempo, o paciente começa a apresentar dor de cabeça, febre alta, dor nas costas, mialgia, fadiga, cansaço em excesso e aumento dos gânglios linfáticos (uma caraterística dessa doença que se diferencia das demais). Cerca de três dias após o quadro febril, a pessoa começa a apresentar as bolhas (erupções) na pele.
Quando a pessoa deve buscar o auxílio médico?
José Henrique Castrioto: É importante salientar que ninguém está livre de contrair essa doença, caso tenha contato com uma pessoa infectada. Em Petrópolis, os pacientes devem buscar orientação médica nas Unidades Básicas de Saúde da Família ou nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). As gestantes e puérperas devem ir imediatamente para o Hospital de Ensino Alcides Carneiro. Geralmente, os casos identificados da doença são de quadros leves. Ao surgir os sintomas, a pessoa precisa buscar o atendimento médico e adotar as medidas preventivas de isolamento, para que não seja um agente de transmissão.
Como é feito o tratamento da doença?
José Henrique Castrioto: O tratamento da varíola dos macacos é baseado no controle dos sintomas que o paciente apresenta. No caso das lesões, o paciente pode apresentar dor e precisa tratar essas lesões para evitar infecções secundárias.
Grupos específicos necessitam de cuidados especiais e avaliação mais criteriosa, como as crianças, idosos e pessoas imunocomprometidas, pois podem desenvolver sintomas mais graves, que levem ao óbito.
Existe a vacina? Como o país pode se preparar melhor para imunizar a população e não sofrer com uma pandemia/endemia futura por conta dessa doença?
José Henrique Castrioto: Sim, existe vacina. O Ministério da Saúde já comprou alguns lotes que ainda não chegaram ao Brasil. A princípio, a vacina será administrada para os profissionais de saúde que atendem aos pacientes com a doença e grupos de maior risco. Acredito que o Ministério da Saúde deva ampliar essa estratégia com o passar do tempo.
As medidas de prevenção contra a Covid-19 e a varíola dos macacos são basicamente as mesmas. O senhor acredita que a população estará mais suscetível às doenças infecciosas a partir de agora? Por quê?
José Henrique Castrioto: Sim, as medidas de prevenção contra Covid-19 e a nova varíola são muito parecidas e a população deve mantê-las, até mesmo porque a pandemia de Covid ainda não terminou.
Sem dúvidas, a globalização das relações facilita a disseminação de doenças infecciosas em escala global e a possibilidade do surgimento ou ressurgimento de novas epidemias e pandemias, isso é uma realidade.
*Com informações da Agência Brasil, Fiocruz e Sociedade Brasileira de Primatologia




