
Orientada pela Secretaria de Meio Ambiente, a Companhia de Desenvolvimento de Petrópolis (Comdep) iniciou a limpeza e poda preventiva das árvores. O trabalho gerou polêmica entre os habitantes da cidade, que não entenderam a dimensão das podas e queriam explicações.
Segundo Anderson Juliano, presidente da Comdep, foram disponibilizados dez funcionários e dois caminhões para a realização do serviço. As podas realizadas entre os meses de maio e agosto começaram na Av. Koeler, onde todas as árvores que estariam com ervas-de-passarinho e galhos secos foram limpas e podadas, começando pelo Centro Histórico e partindo para as árvores localizadas em bairros da cidade.
Em entrevista exclusiva ao Acontece em Petrópolis, o engenheiro agrônomo Orlando Graeff fala sobre as podas realizadas na cidade e dá seu parecer profissional, sobre a relação meio ambiente e Prefeitura de Petrópolis.
“Árvores tropicais simplesmente não devem ser podadas, salvo nas situações de profilaxia de doenças e pragas ou para segurança de fios e residências. Há também casos especiais, chamado de Poda de Conformação, quando uma árvore, durante seu crescimento e estabelecimento, recebe direcionamento planejado de seu desenvolvimento, de modo a tomar forma, pré-estabelecida em projeto. Neste caso, as podas seguem regras agronômicas específicas e não mais ocorrerão depois do definitivo desenvolvimento da planta”, afirma Orlando.
Modificações na paisagem urbana e o surgimento de novos prédios que resultaram em um desequilíbrio ambiental. “Agora, a paisagem urbana da nossa cidade é marcada por edifícios altos, todos aglomerados entre si, fazendo surgir uma nova microclimatologia, com muito menos luz, maior umidade relativa, menor circulação de ar e temperaturas diferenciadas. Somando-se a isso a pesada descarga de gases e partículas, ocasionada pelo trânsito, haveremos de imaginar os efeitos disso sobre um arboreto planejado há tantos anos, para uma cidade tão diferente. Não se podem ter dúvidas de que, todo o projeto de arborização de Petrópolis tenha que ser gerado sob diferentes parâmetros e índices agronômicos. O que parece ter ocorrido é que as autoridades não souberam lidar ou não tiveram maior interesse com o patrimônio vivo que receberam do passado, ainda que este seja bastante complexo e constituído de espécies notáveis, incomuns ou mesmo raras”, comenta Graeff.
Alguns petropolitanos observaram as podas e tiveram a mesma dúvida: as árvores realmente precisavam ser podadas?
“A resposta às indagações sobre as podas em Petrópolis é uma só: não, as árvores tropicais não são passíveis de podas regulares, não respondem satisfatoriamente a semelhante procedimento e somente poderão declinar, ano a ano, quando submetidas a tal tipo de mutilação sistemática. Ou seja, não existe qualquer justificativa agronômica-florestal para essas podas drásticas que se observam em Petrópolis. Isso somente pode ter origem na necessidade das autoridades de se livrarem de outros problemas corriqueiros, que lhes dariam muito mais trabalho. Sob este aspecto, o corte subtotal das galhadas do arboreto urbano petropolitano serve para prevenir danos a transeuntes, carros e casas, assim como para evitar a trabalheira diuturna de varrer as ruas das folhas ‘inoportunas’ que insistem em cair, continuamente, sobre as calçadas”, analisa Orlando.
Informada sobre os questionamenos dos petropolitanos e constantes reclamações, a Secretaria de Meio Ambiente, informou por meio da Assessoria de Comunicação, que “a poda das árvores é feita anualmente. O trabalho é necessário para que as árvores se fortifiquem, além do caráter preventivo contra possíveis acidentes gerados pela queda de galhos secos. Vale ressaltar que a poda das árvores deve ser feita entre os meses de maio a agosto, onde elas terão maior facilidade de recuperação”.
“Todo o serviço de poda é orientado por técnicos da Secretaria de Meio Ambiente. A Comdep ressalta ainda que os funcionários da companhia que estão realizando os serviços de poda de árvores possuem todo o equipamento necessário para o serviço. A Comdep esclareceu que exige de seus funcionários a utilização de equipamentos de segurança”, explica a nota enviada pela Assessoria da Prefeitura.
Vale lembrar que em 1988, a Prefeitura da cidade também foi criticada por ambientalistas e multada pela então Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (conhecida agora como Iphan), por fazer uma poda radical em 300 magnólias de áreas tombadas da Petrópolis. Na época, a Prefeitura também alegou que a poda era necessária para acabar com o acúmulo das ervas de passarinho. Mais de 21 anos depois do ocorrido, muitas das magnólias podadas ainda não atingiram seu tamanho original.
A Comdep esclarece que a poda em área particular deve ser feita pelo próprio proprietário do terreno, podendo ser retirado de 30% à 40% da árvore sem autorização da Secretaria de Meio Ambiente. Caso seja necessária uma poda maior, o proprietário do terreno deve entrar em contato com a secretaria através do telefone (24) 2246-8963 e pedir um laudo autorizando o corte.