por Ana Cláudia Carvalho
O segundo domingo do mês de maio, todos os anos, é dedicado ao Dia das Mães, um momento para estabelecer e ampliar as relações sociais e estimular a afetividade entre as crianças e as mães. Além de ser um dia lindo para lembrar da importância da maternidade e falar de toda essa jornada. Entretanto, a data também pode provocar certos danos na saúde mental de quem não consegue lidar muito bem com essa comemoração.
O Dia das Mães pode estimular tanto sentimentos positivos, quanto negativos nas pessoas, com base nas nossas vivências relacionadas à data. É importante refletir como para muitos o dia das mães se tornou uma única data reservada para agradecer e valorizar as mães: o que ela representa nos dias de hoje.
Sabemos que assim como o Natal e a Páscoa, a data tomou tamanha proporção com incentivo do comércio. Contudo, muito além da ênfase no aumento de vendas de presentes, o segundo domingo de maio, ficou marcado pela troca de vivências familiares e a reunião em família para comemorar juntos este dia. Então, neste sentido, podem ser criadas memórias afetivas em torno da família, que contribuem para o fortalecimento da relação entre mães e filhos.
Ainda que a data possa representar para muitas pessoas um momento de fortalecimento de vínculos familiares, para outras pode acarretar sofrimento emocional, por aproximá-la de lembranças dolorosas e de cobranças sociais. Atualmente, nas redes sociais, facilmente comparamos o fragmento que vemos da vida do outro e comparamos com a totalidade das nossas vivências. Esta comparação é injusta conosco e pode trazer adoecimentos emocionais.
O Dia das Mães pode representar, para muitas pessoas, um contato com lembranças difíceis e dolorosas. Pessoas que não tiveram uma figura materna presente, quem lida com o luto da mãe ou de um filho, pessoas que por alguns motivos estão distantes de suas mães ou filhos, seja por conta da distância física ou algum desentendimento, mulheres que sonham com a maternidade e não conseguiram vivenciá-la, as que não desejam ser mães e ainda precisam lidar com as cobranças da sociedade. Entre outras situações, muitas pessoas podem ser impactadas de maneira negativa.
Esta data não deve ser um peso para quem não consegue celebrá-la e é preciso compreender a singularidade de cada pessoa, acolher e jamais julgar. As pessoas costumam utilizar frases “reparadoras” para abordar sobre uma dor que não conhecem. Neste sentido, precisamos ter empatia para compreender que assim como outras datas comemorativas, o dia das mães pode não ser uma data agradável para todos.
É importante lidar com esse sentimento e fazer com que ele não afete mais a vida pessoal. O mais indicado seria que a pessoa evite comparações ou até mesmo se force a celebrar esta data como outros. Além disso, é necessário entender quais pensamentos, sentimentos e emoções estão relacionados a esta vivência. A psicoterapia, por exemplo, pode ajudar e muito a ressignificar lembranças e situações difíceis que não conseguimos lidar. Ter saúde emocional não significa ausência de vivências dolorosas, mas aprender a lidar com elas a partir do autoconhecimento.
Amamos os nossos filhos, mas nem sempre gostamos do que representa a maternidade real, bem diferente daquela que estamos acostumados a ver nas redes sociais. A maternidade não deve ser romantizada, são inúmeras as renúncias, o cansaço, as múltiplas tarefas, as autocobranças e as cobranças da sociedade. Temos que ser boas mães, boas profissionais, boas parceiras, boas filhas, boas amigas. Para muitas pessoas, o maternar é exaustivo e solitário.
Mesmo com a pressão, não é impossível se livrar desses estigmas que podem se tornar negativos. Existe um luto que nem sempre conseguimos lidar em relação à mulher que fomos e que deixou de existir. Outra mulher nasce quando tem um filho, no entanto, as cobranças aumentam, os papéis sociais são acrescentados: ainda precisamos caminhar muito na compreensão de que um filho pertence à família e não apenas à mãe, todos podem e devem cuidar da mãe e da criança.
Este estigma social que precisa ser combatido de que a mãe precisa continuar a ser aquela que consegue equilibrar muito bem todos os seus papéis sociais. Ainda precisamos caminhar muito a respeito do que a sociedade compreende sobre o que é ser mãe e o que é ser pai. Se existe uma mãe exausta, possivelmente existe um pai que não está fazendo o seu papel. Infelizmente, ainda é comum vermos mães sobrecarregadas e pais ausentes da vida com os filhos. Além do mais, combater a romantização da maternidade é muito essencial, bem como compreender que podemos ser mães.
Ana Cláudia Carvalho é docente do curso de psicologia da Estácio e mestra em psicologia.