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Alvo Duplo (2012) – Stallone em (des)ação

A sensação do déjà vu é sempre interessante, porque faz a gente meio que esquecer o presente e se ligar ao futuro automaticamente, sem pontes e sem intermediários. O ruim é quando o déjà vu é menos desarranjo da gente com o tempo, e mais repetição do que já se viu. Alvo Duplo é um filme desse tipo: lembrança tão vaga de tantos filmes, que é mais fácil se grudar ao passado, pela memória, do que ao próprio filme.

A sinopse é conhecida: o matador de aluguel chamado Jimmy Bobo, interpretado por Sylvester Stallone, e o policial Taylor Kwon, Sung Kang, passam a ser perseguidos ao resolverem investigar a morte de seus parceiros, um matador e um tira. Assim, juntos, eles tentam solucionar o caso e descobrir o que está por trás dessas mortes, quando acabam por descobrir um mundo repleto de assassinatos e corrupções.

Alvo Duplo (Bullet to the Head) de Walter Hill é baseado na Graphic Novel francesa Du plomb dans la tête de Alex Nolent. Já foi o tempo em que, ao inspirar o filme em um quadrinho, o que se buscava era uma nova estética ou uma tentativa de dar novos ares para as histórias do cinema, atraindo os temas do submundo comuns aos quadrinhos. Alvo Duplo nada tem da estética dos HQs, exceto uma imagem estourada como fogo em transições de cena que lembram um filtro qualquer do instagram. Fora isso, é apenas um filme de ação qualquer, se é que o quadrinho já não tinha em si alguma forma de simplificação.

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No entanto, o que me intriga é essa eterna repetição do já repetido. É a constante fórmula de personagens: um japa, um negro, um mexicano, um advogado safado e claro, um grande nome – Stallone – uma figura tão marcada por altos e baixos na carreira, que não nos deixa dúvida de que o interesse pelo seu trabalho é imenso e tem todo o valor possível, sendo talvez o único ponto realmente interessante de todo filme. A interpretação dura, características de Stallone, misturada com o gradual envelhecimento de seu corpo, começa a trazer a seus personagens alguma coisa de novo que ainda não podemos diagnosticar. Vejo uma maturidade de interpretação que expõe seus defeitos, que antes eram escondidos pelas excessivas cenas de ação, e ao mesmo tempo, mostram um caráter de concentração de energia na expressão daquilo que não se mexe: o olhar, os lábios, o rosto.

Alvo Duplo não chega a ser um filme relevante para a filmografia de ninguém e não possui tantos atrativos para os cinéfilos e, acho que tampouco, para o público comum, mas não deixa de ser uma breve diversão entre uma atividade e outra, ou um descanso qualquer. Pelo menos, não é pretensioso como Oblivion (2013).

O filme permanece em cartaz até esta quinta-feira (2) no Top Cine Hipershopping ABC, com sessões às 19h20 e 21h.

Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo e poeta, formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO – Univesidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde atualmente cursa Letras – Português/Literaturas.

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