Nunca achei muita graça na série Mike & Molly, porque não consigo achar graça de gordinhos atrapalhados, simplesmente porque eles são gordinhos atrapalhados e fazem gordices atrapalhadas com temáticas do cotidiano: família, sexo, dinheiro, entre outros. Não acho que, por serem gordos, os temas acima expostos se tornam mais engraçados do que se eles fossem magros. Pois é, o pastelão desse tipo não me convence e não me comove. Por isso que o filão do humor de Uma Ladra sem Limites (2013), de Seth Gordon, me soa tão falso e artificial.
O filme é sobre Sandy Patterson (Jason Bateman), que em meio a uma nova promoção no emprego e da notícia da terceira gravidez da mulher, descobre que seu cartão de crédito vem sendo usado em outro estado. Através da polícia, ele descobre que a falsária é uma mulher (Melissa McCarthy), acima do peso, que se utiliza da ambiguidade do nome Sandy, que serve tanto para homem quanto para mulher, para clonar o cartão do rapaz e utilizá-lo em salões de beleza, festas, compras, etc. Por conta disso, Sandy sai em uma viagem à procura da mulher, para poder manter o emprego e limpar seu nome frente à polícia.
A primeira meia hora do filme, que se concentra no primeiro contato de Sandy com a ladra, é completamente voltado para uma comédia pastelão de pior nível, tal como um filme B de Ed Murphy, com cenas de puro mau gosto que apelam para uma visão tosca da obesidade, simulações de sexo sem qualquer bom senso, e um esforço imenso para fazer rir através de uma comédia física.
Paralelamente a isso, utiliza-se do talento cômico de Melissa para uma narrativa com ironias e respostas rápidas na ponta da língua. Entretanto, todas elas geralmente se utilizam de um duplo sentido patético, que não tem qualquer graça ou interesse, e apenas causa nojo, tanto em Sandy, quanto no público. A questão é que o humor não se veicula diretamente ao besteirol adolescente, mas a um estilo que parece vencido e desgastado como a série quase infinita de Corra Que a Polícia Vem Aí. E é nessa reminiscência de um cinema que se via no começo da década de 90, que Uma Ladra Sem Limites se coloca. Como expectador, a sensação é de que alguma coisa deu errado, ou no passado, ou agora no presente.
Por outro lado, o filme parece tomar consciência de si lá para o meio quando nos mostra uma dimensão humana das personagens. Nesse novo momento, em que a obra ganha tons de road movie de reconciliação e autoconhecimento, Sandy e a moça gorda começam a ter um maior contato e, após perceberem que estão sendo perseguidos por assassinos de aluguel, criam uma empatia mútua e um senso de proteção em que cada um tem a chance de salvar a vida do outro. Conhecendo-se mais, começam a humanizar suas bobagens e dar sentido a tudo aquilo que já viveram e estão a viver: a moça era órfã e jamais tivera nome, ou tivera nomes demais; Sandy buscava incansavelmente ter um nome na empresa, na vida, no mundo ,e se via preso às amarras de um casamento e da criação de filhos. A partir daí, o filme ganha um toque de sensibilidade que pode até chegar a comover.
Uma Ladra sem Limites é obviamente parte de um filão de comédia pastelão que tenta se abrir na rebarba de outras comédias, bem mais interessantes, diga-se de passagem, como Se Beber Não Case (2009). O diretor Seth Gordon, o mesmo de Quero Matar Meu Chefe (2011), começa a achar espaço nesse tipo de filme que é rapidamente esquecido pelo público, embora arrecade bastante e se perpetue nas locadoras. Não me parece haver muito no filme, além do que foi dito. Nada além de um esforço para se adequar, para fazer dar certo, para fazer lucrar. E, para isso, na lei da selva cinematográfica, até um bocadinho de mau gosto serve.
O filme está em cartaz no Top Cine Hipershopping ABC, com sessão às 18h50. A classificação é 12 anos.
Luiz Antonio Ribeiro é dramaturgo e poeta, formado em Teoria do Teatro pela UNIRIO – Univesidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde atualmente cursa Letras – Português/Literaturas.