Cultura & Lazer

Música independente na rede

 

Julian Probst (Crédito: Ana Clara Silveira)

Internet abre portas para artistas sem gravadora

Bastam um computador e um microfone. É munido deles que muitos artistas constroem, em casa, o palco que lhes falta fora dela. Uma vez na rede, suas canções encontram seu público próprio, através das mais variadas plataformas criadas com esse fim. Essa é uma realidade que, se descrita para músicos alguns anos atrás, soaria como ficção científica.

Houve uma época em que, para que um artista tivesse seu LP ou CD nas prateleiras das lojas, e, consequentemente, músicas que tocassem nas rádios, era preciso um contrato com uma gravadora, que cuidaria do processo de seleção do material, gravação, manufatura e distribuição do disco.

Hoje, porém, a indústria fonográfica passa por grandes mudanças. Os downloads ilegais de música, com a popularização cada vez maior da internet banda larga, fizeram com que a venda de CDs caísse drasticamente, o que por sua vez causou o fechamento de inúmeras lojas de discos mundo afora.

Surgiu, assim, em 2009, o Dia da Loja de Discos, comemorado no terceiro sábado de abril. O dia é marcado por apresentações e lançamentos especiais, como o da banda inglesa Blur, que lançou seu primeiro single desde 2003 para a ocasião.

Nick Hornby, autor de Alta Fidelidade, livro que narra as desventuras amorosas do dono de uma loja de discos, disse ao jornal inglês The Independent: “Sim, eu sei que baixar música é mais fácil, e provavelmente mais barato. Mas o que está tocando na sua loja de downloads quando você entra? Nada. Quem você vai conhecer lá? Ninguém. Onde estão os quadros de aviso, oferecendo apartamentos para dividir e vagas em bandas destinadas ao superestrelato? Quem vai te mandar parar de ouvir aquilo e começar a ouvir isso? Vá em frente, economize uns trocados. A economia vai lhe custar a carreira, um punhado de amigos legais, gosto musical e, eventualmente, sua alma. As lojas de discos não vão salvar sua vida. Mas podem lhe dar uma vida melhor”.

A visão romântica de Hornby não acompanha o ritmo do mercado. O cantor e compositor Julian Probst, vocalista da banda Generais Marcianos, bem sabe disso. “O maior desafio, sem dúvidas, é a parte financeira. Hoje em dia é muito mais viável gravar um cd do que era antigamente, mas ainda pesa um pouco se quisermos fazer algo de qualidade inconteste”, reflete o músico, que se prepara para a gravação de um disco autoral.

Embora as oportunidades tenham se multiplicado para quem ser notado, a atenção do público se divide entre bandas novas e antigas, inovadoras e estabelecidas. “Antigamente bastava uma música e um cd pra fazer sucesso, desde que tivesse o devido apoio e o ‘canal’ pra fazer isso. Hoje temos milhões de possibilidades de divulgação, mas o público está totalmente fragmentado e a concorrência chega aos milhões também. Creio ser muito difícil estabelecer-se enquanto artista hoje em dia”, nota Julian.

O desafio não é exclusividade dos músicos brasileiros. O cantor holandês Joep van Son, líder das bandas The Sugarettes, The Very Sexuals e Nikoo, também enfrenta dificuldades. “Acredito que o mais difícil é ser notado. Há muitas pessoas em bandas. Se você não tem uma grande máquina te apoiando, você tem de ser muito bom, ou ter contatos, ou ambos”, diz.

Por vezes, o único objetivo é se expressar artisticamente, e ser notado passa a ser apenas a consequência da exposição que a web propicia. “Toco mais na minha sala ou meu estúdio. Tenho um emprego que exige muito de mim. Acho que na Holanda, pessoas que curtem a cena underground podem me conhecer, mas não saio em revistas alternativas ou coisa do tipo. Gosto assim. Ser

Joep Van Son

obscuro, e ainda assim ter pessoas do mundo todo ouvindo a música que faço com meus amigos”, conta Joep.

Estar presente na internet é relativamente fácil, mas gravar e distribuir CDs ainda é difícil. Com a queda nas vendas, gravadoras contratam cada vez menos artistas e gravar um disco independentemente requer um grande orçamento para o aluguel de um estúdio e a mixagem das faixas.

A banda americana The Dead Trees, que passou pelo Brasil no ano passado, abrindo os shows do Little Joy, pede ajuda para a gravação de seu segundo álbum através do site Kickstarter. Quem doar a partir de US$10 – o alvo é US$17 mil – ganhará o download do disco, um CD ou LP autografado ou mesmo uma aula de bateria, guitarra, baixo ou composição com os integrantes da banda.

Os ingleses do Radiohead também inovaram. Para o lançamento de seu último disco, In Rainbows, a banda vendeu MP3s em seu site oficial, permitindo aos fãs escolherem o quanto pagariam por cada faixa. Seria a venda de músicas digitais o futuro da indústria? Julian é cético: “Como as pessoas vão querer comprar se podem baixar de graça? Como vão pagar para ouvir quem ainda não conhecem?”.

Ainda é cedo para prever o futuro da indústria fonográfica, mas uma coisa é certa: ela jamais será a mesma.

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